Este é o primeiro de dois estudos que estaremos desenvolvendo sobre o livro do Apocalipse. Nessa época de mudança de milênio, o assunto passa a ter um interesse maior, à medida que é comum se associar Apocalipse às coisas referentes ao final dos tempos. Como veremos ao longo desses estudos, porém, encontraremos mensagens desse último livro da Bíblia não apenas endereçadas ao futuro, mas também ao passado e ao nosso presente.
Antes de entrarmos nos textos e nos assuntos do livro propriamente dito, é importante que consideremos alguns pontos essenciais para o entendimento da mensagem do Apocalipse. Por isso é que nessas primeira lições estaremos tentando responder a algumas perguntas tais como: Por que o livro foi escrito ? Qual o contexto histórico ? Qual o seu objetivo ? Qual a linguagem usada no livro ? É a mesma usada nos demais livros da Bíblia ou é diferente ? Para quem foi escrito o livro ? Por que o autor usou linguagem tão carregada de símbolos, tão codificada ou “encriptada”? Como decodificar essa linguagem ? Nosso grande desafio, portanto, será procurar descobrir e entender o que este livro da Bíblia tem a nos revelar.
Para se ter um correto entendimento sobre a mensagem do Apocalipse, é fundamental conhecer um pouco sobre a linguagem utilizada no livro. O texto deste livro pertence a uma classe especial de escritos conhecidos como apocalípticos. Trata-se de um tipo de literatura surgida inicialmente no Antigo Testamento, em épocas de tribulações, provações, sofrimentos e tristezas. Apocalipse não é o único livro da bíblia que se utiliza deste estilo. O livro de Daniel, por exemplo, é considerado literatura apocalíptica. O mesmo se pode afirmar para trechos dos livros de Isaias (13 a 14), Ezequiel (1 e 28 a 39), e ainda, Joel (2 a 3) e Zacarias (9 a 14). No período a partir do ano 210 a.C. e até cerca de 200 d.C. vamos encontrar a maior produção de textos apocalípticos, a maioria textos fora do cânon da Bíblia. Entre eles, estão os chamados apócrifos, tais como O Livro de Enoque, Apocalipse de Baruque, Assunção de Moisés, O Livro do Quarto Esdras e outros. O Apocalipse de João, livro que é tema de nossa série de estudos, possivelmente foi escrito na época do imperador Domiciano que governou o império romano entre 81 e 96 d.C. Os escritos apocalípticos têm em comum vários pontos que caracterizam uma linguagem. Alguns desses pontos são:
• Salientam esperança e expectativas escatológicas, isto é, ligadas às últimas coisas ou à consumação da história;
• Asseguram a intervenção de Deus para a redenção do seu povo;
• Interpretam conflitos e problemas em curso, à luz do fim da história. O texto sempre está associado a uma situação histórica crítica. Conhecer essa situação histórica facilita a interpretação do texto Os textos em geral se propõem a fornecer conforto, segurança e coragem em dias difíceis;
• Apresentam mensagens dentro de uma estrutura de visões e êxtases que seus autores tiveram. Estas visões são descritas numa série de símbolos extraordinários, tais como, criaturas estranhas, bestas e animais voadores fantásticos;
• Utiliza uma linguagem rica no uso de símbolos, muitos deles, secretos. O autor precisava descrever o "indescritível" e ver o "invisível". Além disso, face ao ambiente de perseguição e opressão existentes, os símbolos eram usados como “criptografia”, isto é, o texto era codificado para que somente aqueles que conhecessem a chave para decodificá-lo pudessem entender seu conteúdo. O principal motivo para isso era sobreviver à censura e à perseguição do inimigo opressor que certamente destruiria o texto e mataria seu autor, caso conhecesse o verdadeiro significado do escrito;
• Identificam seus autores por meio de pseudônimos para serem melhor aceitos pelo povo, escapando ao mesmo tempo, da oposição e opressão dos inimigos políticos. O livro que estamos estudando, entretanto, não seguiu essa regra, à medida que João se nomeou seu autor. Ele declara seu nome, mas esconde sua mensagem no estilo e na codificação da literatura apocalíptica. Na época, João estava exilado na ilha de Patmos e temia ser impedido de divulgar os seus escritos, pelos romanos, seus opressores;
• Apresentam sempre um elemento de predição. Convém observar, entretanto, que tais predições tendem a ter um caráter genérico, não se prendendo a detalhes. Isso indica a necessidade de uma boa dose de cautela quando da busca de informações sobre o futuro;
Quando comparado com os demais textos apocalípticos apócrifos, apesar de usar a mesma linguagem, O Apocalipse de João mostra-se mais bem organizado. Ele apresenta também uma mensagem com maior alcance no que se refere ao entendimento da soberania de Deus na História e ao processo redentivo para o ser humano.
Vamos verificar, ao longo dos próximos estudos, que o Apocalipse foi escrito em um período de grande crise e perseguição contra a igreja primitiva. Ele foi escrito para aqueles crentes perseguidos, que viam eles próprios, suas famílias e seus bens serem dizimados pela “besta apocalíptica”, que almejava destruir o Cristianismo. É um livro escrito para aquele contexto, mas que serve para nós hoje, à medida que a História, com seus ciclos, volta a nos apresentar situações semelhantes àquelas encontradas no passado. Seja com opressões físicas ou materiais, como temos visto em vários momentos, nesses últimos dois mil anos, seja com opressões mais sutis, restritas ao nosso interior, que contribuem para nossas crises, nossas perdas, nossas dores, nossas angústias, frustrações e derrotas, O Apocalipse de João vai nos revelar que o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo, nos dará a vitória em Cristo Jesus.
É este Cordeiro, é que é o Alfa e o Omega, é Aquele que é, que era e que há de vir, é Ele que “...nos ama e pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados”. É Ele que nos fará mais que vencedores em nossa jornada terrena. Este Cordeiro, é Jesus de Nazareth.
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