Apocalipse 1:9-20
O Apóstolo Chamado para a Revelação
O Imperador Domiciano (81 a 96 d.C.) governava o império romano de forma despótica. Ele se considerava um deus, espalhava imagens suas pelo império, punindo com martírio, exílio, torturas, confisco e a morte quem não as adorasse. Estabeleceu sistema de delatores, que agiam como verdadeiros flagelos. Os cristãos da época acabavam recebendo todo o impacto dessa política, uma vez que o império estava sendo banhado com o seu sangue. O Apóstolo João, autor do livro de Apocalipse, encontrava-se exilado na ilha de Patmos, como resultado das perseguições em curso. Lá, ele teve a oportunidade de refletir sobre o significado do conflito que havia surgido entre o Estado Romano e a Igreja Cristã. Levou em conta o conflito no seu sentido histórico e cósmico e, meditando sobre suas vastas implicações, caiu num estado de êxtase, sob a influência do Espírito Santo, recebendo de Deus uma visão que lhe permitiu escrever o "Livro das Revelações". Que resultaria de tudo isso ? O Cristianismo iria acabar ? Deus perdera o poder ? Por que Deus não intervinha ? Quem venceria as forças do inferno, encarnadas em Domiciano ? Até quando o império romano se manteria oprimindo os cristãos ? Este povo perseguido precisava de alguém ou algo que os encorajasse e que lhes desse uma visão de futuro que lhes garantisse a vitória, apesar de perseguidos, dispersos e mortos. Não somente eles, mas todos os povos que viriam depois, de alguma forma, necessitariam dessas palavras de encorajamento, dessas bem-aventuranças e dessa visão de futuro da vitória de Cristo sobre o mal. É esta a grande mensagem que João nos entrega através do seu Apocalipse. "Bem-aventurado o que guarda a profecia deste livro" (Ap. 22:7), "Bem-aventurado é o que lê e os que ouvem"(Ap. 1:3), "Bem-aventurado os mortos que morrem no Senhor" (Ap14:13), "Bem-aventurado o que vigia e guarda os seus vestidos" (Ap. 16:15).
Os Destinatários da Revelação
O texto de Apocalipse 1:11 indica que o livro foi dirigido às "sete igrejas que estão na Ásia". Isto não nos permite concluir, contudo, que os receptores desta mensagem estivessem limitados a essas igrejas. O uso do número "sete", que simboliza "inteireza" ou "perfeição", indica que o livro era para todas as igrejas da Ásia Menor. Na realidade, vamos verificar que a mensagem dirigida a essas igrejas teve um caráter universal para todos os demais cristãos, estendendo-se até os dias de hoje, indo também até o futuro. É uma mensagem de vitória e de triunfo do Cordeiro-que-tira-o-pecado-do-mundo. É uma mensagem de vitória e encorajamento, até que os reinos deste mundo se tornem parte do Reino de nosso Deus e do seu Cristo Salvador.
Como citado anteriormente, as condições dos cristãos que primeiro receberam o Apocalipse eram bastante críticas. Por várias décadas o Cristianismo passara meio despercebido do império romano. O Judaísmo era considerado uma religião legal e Roma via o Cristianismo como uma parte do Judaísmo. Pouco à pouco porém, Roma notou que Cristianismo e Judaísmo eram coisas completamente distintas. Além disso, haviam diversos motivos para uma forte animosidade contra os cristãos, dos quais destacamos alguns:
O Cristianismo era considerado uma religião ilegal porque, ao contrário das demais religiões consideradas legais, buscava conquistar seguidores e prosélitos, fato este que não era tolerado por Roma.
Aquele novo movimento aspirava tornar-se universal e o Reino de Deus era o seu ideal principal. Para os romanos, porém, o Estado era o principal o que os levava a verem o Cristianismo como um possível rival.
O Cristianismo era uma religião exclusivista, pois os crentes da época se recusavam de participar da vida social e dos costumes pagãos. Não freqüentar os cultos pagãos e não ter deuses romanos em casa fez com que o povo em geral visse os cristãos como inimigos de seus deuses. Este clima de animosidade levava o povo em geral a acreditar em tudo que se falava de mal dos cristãos.
Os cristãos eram acusados de todo o tipo de iniquidades. O povo achava que tinham cultos e orgias secretas à noite, que bebiam sangue e comiam carne humana.
Os cristãos negavam-se a ir à guerra uma vez que todo soldado romano tinha que assumir compromisso com cultos aos ídolos do Estado, o que incluía uso de insígnias idolátricas. Além disso, entendiam que Cristo os havia ensinado a largar definitivamente a espada e usar meios pacíficos. Isso também contribuía para que o povo em geral os odiasse e os achasse traidores do império.
Aqueles que usavam a religião como forma de ganharem dinheiro, tais como os fabricantes de imagens, sacerdotes pagãos e comerciantes de animais, destinados aos sacrifícios, acabaram por criar conflitos com o Cristianismo.
Os cristãos se negavam a cultuar o Imperador. Tinham que afirmar que o deus-Cesar era superior ao Deus Cristo, o que se negavam a fazer.
O veredicto do governo de Roma era que aquele grupo traidor e rebelde deveria ser exterminado. Para os cristãos, porém, uma outra ameaça se posicionava contra eles: as muitas heresias que começavam a surgir, trazendo confusão, controvérsias, destruindo o companheirismo entre os crentes e ameaçando o próprio Cristianismo como um todo. Esse era o clima a que estavam submetidos aqueles crentes do I século.
A Visão Inicial do Cordeiro
No trecho ora estudado, João vislumbra Cristo redivivo, santo, majestoso, onisciente, cheio de autoridade, e poderoso. Ele está de pé no meio das igrejas, tem a sorte delas em suas mãos e diz: "Não temais ! Eu morri, mas vivo para sempre. E, mais do que isso, tenho em minhas mãos as chaves da morte e do túmulo. Não deveis temer de ir para o lugar do qual eu tenho a chave. Podereis ser perseguidos até a morte, mas eu sou ainda o vosso Rei".
Queira Deus que possamos ter sempre essa visão de vitória gravada em nossas mentes para que jamais venhamos a desanimar quando estivermos diante de quaisquer provações em nossa vida, seja na saúde, em nossos relacionamentos, nos desafios da nossa subsistência, ou quando estivermos sendo perseguidos.
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