
O certo é que a “visão celular”, em geral, vem sendo apresentada, sem nenhuma modéstia, como o mais eficaz meio de conquistar almas perdidas. Os seus defensores afirmam que imitam a igreja primitiva e que estão colhendo muitos frutos... Para eles, essa estratégia é uma revolução, uma quebra de paradigmas e, ao mesmo tempo, um retorno aos princípios da igreja de Atos dos Apóstolos. Não se trata, pois, de mais um programa; é o programa da igreja.
Alguns líderes de igrejas em células têm afirmado que não seguem a padrões éticos, dogmáticos, eclesiásticos de pessoas maduras na fé, experientes ou tradicionalmente respeitáveis. Preferem valorizar as “ministrações específicas” em sigilosos pré-encontros, encontros, pós-encontros, etc. Ninguém está autorizado a descrever o que acontece nessas “tremendas” reuniões secretas...
As igrejas em células têm os seus próprios cursos e conteúdos pedagógicos. Não investem na Escola Bíblica Dominical; consideram-na ultrapassada, uma instituição falida. Dizem, sem nenhuma cerimônia, que as igrejas tradicionais ou conservadoras seguem a padrões arcaicos e “comem pão amanhecido, seco e duro”. Desprezam e reprovam a liturgia tradicional das igrejas que não seguem ao “modelo celular”.
Na prática, embora não admitam, os propagadores dessa “visão” têm oferecido aos crentes vários atrativos do mundo, mas dentro de um contexto “evangélico”. Sua estratégia principal é a “contextualização”. Tudo é feito para agradar as pessoas, uma vez que o objetivo é o crescimento numérico, e não a formação de crentes segundo a Palavra de Deus. Prevalecem doutrinas triunfalistas, como a confissão positiva, a maldição hereditária e a teologia da prosperidade.
Tudo gira em torno das células, reuniões realizadas somente em casas de pessoas evangélicas. Há cultos no templo, mas nenhuma reunião é mais importante que as células, definidas como “a essência da vida da igreja”. Nessas reuniões, ocorre a chamada “oração profética”, recheada com palavras de ordem ao Diabo: “ordenamos”, “quebramos”, “maniatamos”, etc. Há também espaço para manifestações estranhas, como o “cair no poder” — até as crianças caem.
A liturgia das igrejas em células é baseada no princípio “Pregue o evangelho da maneira como as pessoas querem ouvi-lo, e não da forma como precisam ouvi-lo”. A ordem é não se prender a regras ou princípios. Empregam-se, nos chamados cultos: danças, coreografias e apresentações teatrais, principalmente como atrativos para a juventude.
Nessa nova modalidade de culto, os participantes batem os pés e gesticulam à vontade, sem restrições, além de marcharem. A ênfase recai sobre as músicas, as danças, as coreografias, etc. Não há lugar para hinários tradicionais, como Harpa Cristã, Cantor Cristão, etc. Dizem que cantar hinos ultrapassados é idolatria. Tais hinos, segundo eles, parecem ter sido compostos para um funeral.
Em algumas igrejas, empregam-se, nos chamados cultos: excesso de aplauso e de brados “de vitória”, faixas, cartazes, balões, bandeirinhas, lenços... As palavras de ordem são: exagerar e extrapolar. “Sentiu vontade de fazer?” — dizem. — “Faça! Se parecer exagero, execute! O Senhor não está interessado se o adoramos de ponta-cabeça, sentados, em pé, deitados, chorando, sorrindo, cantando, falando, gemendo, gritando e até gesticulando o corpo”.
Infelizmente, por influência dessas igrejas celulares, alguns sintomas são verificados na igreja brasileira.
Eis os frutos do G-12:
1. Os “cultos” não são mais reuniões para adorarmos a Deus, e sim para recebermos bênçãos. Tudo gira em torno dos interesses do povo; os “cultos” são voltados para as pessoas, e não para o louvor do Senhor Jesus Cristo.
2. A exposição da Palavra de Deus não é mais o principal momento de um “culto”. Afinal, para muitos crentes, Deus fala de várias outras maneiras.
3. Praticamente não existe mais o louvor meditativo, em espírito, pois a cada dia os “cultos” se assemelham aos shows mundanos (desculpem-me da redundância, pois todos os shows, por definição, são mundanos).
4. Muitos crentes de hoje consideram normal a realização de shows, por meio dos quais artistas se apresentam para um público que reage com histeria. Cantores e pregadores são mais populares do que Jesus Cristo...
5. Não há mais espaço para a evangelização, de fato. As igrejas se limitam a sair em praça pública para dançar, gritar, pular e “determinar” que o Brasil é do Senhor Jesus!
6. As letras das canções (canções, mesmo, pois não são hinos de louvor a Deus) só enfatizam os “sonhos de Deus” e mensagens de auto-ajuda. A cada dia, desaparecem os hinos de adoração a Deus e os que falam da obra de Cristo.
7. A falta de temor a Deus nos “cultos” é facilmente percebida em razão das atitudes extravagantes dos crentes.
8. A Palavra de Deus não é respeitada, e quem a defende é taxado de retrógrado, biblista rígido, quadrado, ultra-conservador, etc.
9. Não há mais espaço para a renúncia e a santificação. Os crentes se consideram todo-poderosos.
10. Líderes fracassam moralmente, sendo condenados pela Justiça, mas os crentes não se sentem envergonhados; antes, se dizem perseguidos pelo mundo. Afinal, os crentes também compram CD's e DVD's piratas, possuem gatonet em casa... Para que se importar com os desvios de seus líderes?
Lembremo-nos das palavras do Sumo Pastor, registradas em Mateus 7.15,16: “Acautelai-vos... Por seus frutos os conhecereis. Porventura, colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?”
Respeitosamente,
Ciro Sanches Zibordi