2 de set. de 2008

Revista Enfoque: Jejum bíblico

No final de 2007, a missionária Cláudia Simião da Silva, de 35 anos, morreu depois de jejuar durante um mês e obrigar duas sobrinhas, a irmã e a sogra a acompanharem o retiro. Ela foi encontrada morta em Belford Roxo, Baixada Fluminense do Rio de Janeiro. Desde que o caso virou notícia, dezenas de e-mails chegaram à redação da Enfoque criticando a postura da missionária e trazendo dúvidas sobre o jejum.

Segundo informações da Polícia, Cláudia esperava um enviado divino que as tirasse da cidade e as levasse para uma casa na zona sul. Confinadas por quase dois meses em casa, as irmãs da vítima, Adrielle, 9, e Grazielle Souza Santos Simião, 11, foram internadas apresentando quadro de desnutrição e de confusão mental. E a missionária tinha instrução. Formada em Teologia e cursando Direito, segundo vizinhos, ela era desviada de uma Igreja Batista de um bairro próximo.

IGREJAS ADEREM À CAMPANHA DOS 40 DIAS EM JEJUM

Thereza Christina Jorge

O grito de guerra vem de São Paulo, da Primeira Igreja Batista em Santo André, pastoreada há 20 anos por Edison Queiroz. Ano passado, ele arregimentou 23 mil pessoas e 90 igrejas para a campanha “40 Dias de Jejum e Oração”, que será repetida a partir de 30 de março, quando deverão integrar o movimento cerca de 1 milhão de crentes de todo o Brasil. Objetivos: avivamento nacional e duplicação do número de crentes das igrejas brasileiras até 2010, ano do Censo do IBGE.

Tudo começou quando um membro da igreja telefonou para falar sobre uma mensagem que havia recebido de Deus: a igreja deveria fazer 40 dias de jejum e oração. “Verifiquei na Bíblia que Moisés e o próprio Senhor Jesus tiveram a experiência de 40 dias de jejum e oração e senti a confirmação de Deus para o projeto”, conta. Segundo ele, os resultados foram vistos no crescimento das igrejas locais, no fechamento de cassinos e na diminuição da criminalidade.

Quem já aderiu? Bem, todos os líderes que fazem parte do mailing da Sociedade Bíblica do Brasil receberam o convite do pastor Eude Martins, coordenador do Ano da Bíblia. Segundo ele, o jejum sugerido é de passar 40 dias com apenas uma refeição leve no período da tarde, mas pode ser aplicado de várias maneiras. “Pode-se, por exemplo, fazer um jejum de TV por 40 dias, aproveitando esse tempo para a comunhão com a família.”

JEJUM BÍBLICO

A Bíblia é muito clara sobre como deve ser feito o jejum: de forma racional, específica e que agrade a Deus. Mas é sempre na hora de colocá-lo em prática que surgem algumas dúvidas como: o que é o jejum? Como deve ser feito? Jejum de televisão e de refrigerante são válidos?

O que se observa no meio evangélico, principalmente no pentecostal, onde a prática é mais comum, é que existe ainda uma grande dúvida, confusão ou ignorância acerca do jejum e da sua prática correta. Segundo o dicionário, jejum significa abster-se de todo alimento, especialmente como uma observância religiosa. Na Bíblia, grandes homens consideravam o jejum importante. São eles Moisés, Davi, Elias, o próprio Jesus, Paulo e Cornélio. Até o próprio rei Acabe achou graça diante de Deus através do ato.

Rita Eulália de Paula, de 44 anos, da Assembléia de Deus – Ministério Belém, Campinas (SP) – é dessas pessoas que encontram vitória e recebem poder por meio do jejum. Para conseguir a liberação de um processo judicial que estava parado na Justiça há anos, ela fez um jejum durante 40 dias. Trocou os alimentos sólidos por líquidos, perdendo assim 10 quilos. Mesmo com o jejum, o processo ainda demorou alguns meses até sair. “Fui perseverante. A bênção era minha e estava decretado. Foi algo entre eu e Deus, onde pude mostrar minha autodisciplina”, afirma.


DÚVIDA DO LEITOR: CRIANÇA PODE FAZER JEJUM?

Enfoque responde: Claro que não! Crianças em fase de crescimento precisam de certos nutrientes para seu desenvolvimento. O corte da alimentação pode prejudicar o metabolismo da criança. Pré-adolescentes até podem jejuar, ainda que parcialmente, desde que a decisão seja espontânea e esteja dentro de um propósito bíblico. Cortar a alimentação pura e simplesmente, sem o intuito de intimidade com Deus, nada mais é do que fazer greve de fome.

A pastora metodista carioca Miriam Amaral elogia a força de vontade de muitos, no entanto, faz algumas ressalvas importantes. Uma delas é que o jejum deve ser motivado por um desejo profundo de maior intimidade com Deus e não visando o interesse pessoal: “O jejum é uma disciplina espiritual e se refere à abstenção de alimentos para finalidades espirituais. É uma maneira de nos humilharmos, reconhecermos a nossa pequenez e as nossas próprias limitações. É quebrantamento da carne a fim de obtermos um bem maior”.

Miriam, que também é mestre em aconselhamento pastoral e doutoranda na área de ministérios no Asbury Theological Seminary, em Wilmore, nos Estados Unidos, cita alguns casos na Bíblia que, segundo ela, são exemplos de que é possível usar o jejum para diferentes fins, motivados por diferentes sentimentos. Josafá, no livro de 2 Crônicas, teve medo e pôs-se a buscar ao Senhor. Ester jejuou por três dias, a fim de pedir o favor do rei para não exterminar o seu povo. Já nos exemplos de Jesus e do apóstolo Paulo, aconteceu a motivação de consagração para o início de seus ministérios.

ANTES DE INICIAR UM JEJUM, SAIBA QUE:

Jejuar é a restrição do apetite.

O jejum deve colocar Deus em primeiro lugar.

Jejuar é uma maneira de buscar a Deus.

Jejum bíblico é uma espécie de arma secreta do crente como recurso aliado da oração.

Jejum é uma forma de mostrar a Deus a urgência da necessidade declarada na oração.

Portadores de diabetes não podem realizar o jejum.

Usuários de certos medicamentos devem consultar seus médicos antes de começar.

Não jejue somente quando há crise, antecipe-se. O Espírito de Deus quer nos prevenir quanto à aproximação dos temporais.

O jejum pode ser individual ou coletivo.
Não jejue por rotina.

Fique firme durante o jejum. São comuns os ataques do diabo nesse período.

Consuma água pura durante o ato. Isso fará bem ao sistema renal e ajudará o organismo a expelir substâncias tóxicas.


EQUÍVOCOS MAIS COMUNS

Um dos erros mais cometidos por grande parte dos evangélicos é a abstenção de água. Jejuar significa abster-se completamente de todo alimento, mas não exclui a ingestão de água. Estudos comprovam que a água não é estimulante aos apetites do corpo. Qualquer jejum com duração de vários dias exige o uso de água. Moisés recebeu ajuda sobrenatural de tal maneira que pôde ficar 40 dias sem alimento e sem água, mas isto foi uma exceção.

Se uma pessoa toma café ou suco, não está realmente jejuando, no sentido primordial da palavra, mas se a pessoa estiver fazendo-o ao Senhor, será considerado como um “jejum parcial”. O músico Renato Fernandes, 25, da Igreja Congregacional em Santos (SP) é um dos que optam pelo jejum parcial. Como trabalha na área da construção civil, ele afirma que um jejum completo o prejudicaria em seu trabalho. Nas vezes em que optou por esse tipo de jejum, teve conseqüências como dores de cabeça e fraqueza: “Opto por um jejum mais leve. Nesse período, me retiro para estreitar minha intimidade com Deus”.

Às vésperas da Santa Ceia e de eventos importantes, o músico, ao lado de outros integrantes do ministério de louvor, faz um jejum de televisão e refrigerante, além de se abster de alimentos. “Para nós, jovens, é uma forma de sacrifício. Este é o intuito do jejum – sacrificar a carne para estar mais perto de Deus”, justifica.

JEJUM EM OUTRAS CULTURAS

O ato de jejuar é uma prática antiga que acompanha muitos povos. É vasta a discussão sobre a forma de praticar o jejum em outras culturas. Judeus religiosos, católicos e islâmicos também o praticam às vésperas de diversas celebrações, como a Festa de Purim (judeus), Páscoa (católicos) e Ramadam (islâmicos). Diferentes crenças orientais também têm por prática o jejum. Em todas as religiões e filosofias mencionadas, o comum denominador é a abstenção de alimentos e prática de prazeres físicos ou carnais.

O pastor presidente da Igreja Batista Ministério Reviver, Keneddy Fábio, diz que nos primeiros dias de abstenção é comum a pessoa se sentir fraca. “Com alguns dias de jejum a força voltará, mesmo enquanto o jejum continua”, assegura, alertando que, em geral, as pessoas confundem fome com apetite. Ele usa como base a tese de que quando sentimos a necessidade de comida, por hábito, temos apetite. Quando se perde alguma refeição, o apetite exige satisfação, produzindo as “dores” de estômago. “Fome verdadeira só começa no fim de um jejum prolongado, e isso pode durar várias semanas”, explica. Para ele, que já fez diversos jejuns, as dores de cabeça e a fraqueza não são desculpas para não realizá-los, e explica que, em muitos casos, as dores físicas são provenientes de hábitos de alimentação indisciplinados, como o consumo excessivo de café e doces.

Até mesmo a medicina se rendeu aos benefícios do jejum bíblico. Hoje em dia, os melhores nutricionistas aconselham um jejum de alimentos sólidos, uma vez por semana, só com sucos e diversos líquidos, a fim de promover a desintoxicação do corpo. Apesar de indicado, o jejum bíblico deve ter um limite, já que o organismo não pode ficar durante um tempo longo sem certos nutrientes. A ausência deles pode prejudicar o metabolismo, acarretando doenças.

Revista Enfoque
Edição 80: Debate: Jejum Bíblico
Celso de Carvalho

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